terça-feira, dezembro 28, 2004

Cá dentro

Olho pela janela: lá fora, anoitece.
Em simultâneo, no meu coração, o dia nasce, no que parece ser um amanhecer interminável...
Agrada-me este desfasamento.

Silêncio

Tenho calado as Palavras. Ou elas é que andam mudas.
Não aparecem no papel. Não as encontro no coração.
Talvez andem zangadas comigo. Faltei aos últimos encontros, admito!
Minto... Na verdade, tenho calado as Palavras com medo que elas te invejem...
Por isso, o meu coração vai sussurrar ao teu (para evitar ciumeiras): Adoro-te!

terça-feira, dezembro 14, 2004

Desabafo

Por hoje já chega de auto-comiseração. Já ouvi todas as faixas de músicas depressivas guardadas na minha estante mental propositadamente para estes estados de espírito. Já gastei Kleenex em demasia (Kleenex não, os meus são marca branca Carrefour). Irrita-me este meu desejo de perfeição. Quando não estou à altura, claro! Recordo-me da primeira vez que mo apontaram. Foi uma professora de Ciências Naturais do 8º ano. Escreveu-mo numa dedicatória que tenho, seguramente, algures (já mudei de casa entretanto, mas devo-a ter guardado, eu guardo sempre esse tipo de coisas). Dizia algo do género: Desejo que continues a cultivar o teu perfeccionismo. Senti-me orgulhosa.
E sempre me dei bem com isso. Até há uns tempos. Largos. Em excesso. Nada pior que lidar com o insucesso, sobretudo quando se recusa baixar a fasquia. E eu recuso-me a isso. E depois tenho que me haver com o meu Super-Ego, sempre implacável.
...
Enfim, a dose diária recomendada de sofrimento psicológico auto-infligido já foi atingida (ultrapassada, mesmo!).
Amanhã é um novo dia. Dizem...

domingo, novembro 21, 2004

O jazz da Jacinta

Ontem estive no Casino da Póvoa. Convite para dois, fato escuro, jantar integrado no Festival Gastronómico da Caça: pombo, faisão, coelho bravo, perdiz, veado, javali...
Aceitei ir com o meu pai a este jantar em que fico sentada ao lado de casais na faixa dos 50-60, que praticamente não me dirigem a palavra, a ouvir falar de negócios a noite inteira, só pela Jacinta. Vais gostar, tem boa voz, disse a minha mãe, que já a tinha ido ver com o meu pai ao Rivoli. Fui. Aperaltei-me toda (dentro do informal, não fui de vestido comprido nem nada do género) e preparei-me para morrer de tédio até ao início do espectáculo.
Foi melhor que o previsto: casais na faixa dos 40-50, que me interpelaram por duas vezes e conversas sobre crianças que, na escola, destruiram os estojos dos colegas com uma tesoura e tiveram laranja no comportamento e adolescentes com distúrbios alimentares. A melhorar em relação à última vez que cá estive, pensei.
Foi aí que ela entrou: Jacinta acompanhada de músicos nacionais. A vestimenta era simples (até demais, acho), a atitude humilde, mas gostei da proximidade com o público.
Deixei-me contagiar pelo jazz. Vibrei mesmo. Não estivesse ali e até me levantava para dançar. Os músicos estavam divertidíssimos e eu gosto de espectáculos assim, apetece-me juntar-me a eles.
A actuação não chegou a uma hora, soube a pouco. Mas deixou-me num humor excelente. À medida que o licor era absorvido pelo meu sangue e a música contaminava os meus sentidos, fui sendo invadida pela sensação de que tudo iria correr bem daqui para a frente. Até aquelas baladonas de blues, de uma tristeza alegre, me devolveram uma serenidade que ultimamente não tenho tido. A música sempre teve um efeito muito poderoso no meu estado de espírito.
It was worth it. Agradam-me noites destas. Em que se regressa a casa com a alma a cantarolar uma prece de agradecimento só pelo facto de estarmos vivos...

quinta-feira, novembro 11, 2004

Homicídio premeditado

Sim, acho que o vou fazer. Como diz LGM, o que não se pode resolver, vence-se. E vice-versa.
Vou matar o Amor. Por uns tempos, claro. Não é que o quisesse matar, mas quero enterrá-lo bem fundo, e como não sou uma pessoa cruel custa-me enterrá-lo vivo... Já o matei no passado, então convencida que era de vez, mas ele lá ressuscitou passado uns tempos e julgo, por isso, que a ressurreição é uma propriedade que lhe é inerente. Espero não me enganar. Ao fim e ao cabo, é somente a segunda vez que tento a proeza e, se estiver errada, vou sofrer as consequências do acto para toda a vida (e ainda estou em tenra idade)... Mas acho que vou arriscar. Preciso dele num sítio onde não me incomode, não me perturbe.
Só não sei ainda bem como o vou fazer. Para estas coisas não há protocolos estipulados. Mas talvez comece por deixar de esperar...

quarta-feira, novembro 03, 2004

Sorriso entre as 13:40 e as 14:25

Tive pena que o almoço não tivesse durado mais.
O restante dia não teve mais nada de assinalável.
Só mesmo o teu sorriso contagiante e as boas risadas que demos.
Antes e depois, apenas os livros e a dor surda que não cede completamente à injecção das horas.
Não me interessa dissecar a motivação desse sorriso, o que importa é que há muito que não te via sorrir assim. Deu-me verdadeiro prazer ver esse sorriso.
Foi o momento alto do meu dia.
Ainda bem que não partiste para o Brasil...

quinta-feira, outubro 28, 2004

Amizade

Ao J.F.
És as páginas do meu diário secreto
És o eco do meu grito incompleto
És o cofre que guarda as lágrimas dos meus olhos
Como se de preciosos diamantes se tratassem.
És o chilrear dos passarinhos
Que me acorda, de manhã, e me dá os "bons dias".
És a flor, és a pedra do caminho
Que tudo sabe, mas que cala.
És a concha pousada na fina areia da praia,
Que dentro guarda as notas de melodias inéditas.
És a frescura da água das fontes
Que mata a minha sede de viajante fatigado.
És o leito, suave, macio, delicado
Onde me deito, confiante e a sorrir
E onde adormeço, segura, protegida
Sob os lençóis, tão macios!,
De Amizade feitos...

Escrito a 12/03/1997, às 21:45h

O fim de uma pausa prolongada

Decidi, afinal, não te escrever o post que andava a marinar há tempos. Preferi, antes, resgatar um poema (Amizade), que te escrevi há 7 anos (atenta bem na data), e julgo nunca te ter mostrado. Algo pueril, agora, mas sincero como o são os sentimentos na adolescência. Porque, no fundo, foi esse tempo que retomámos este Verão. E ficámos a rir-nos dos caprichos de Saturno, que interromperam a nossa amizade, mas não a quebraram. Porque a Amizade tem esse dom (entre outros): ser capaz de resistir ao Tempo.
Ainda bem. Que assim se preserve.

sábado, outubro 23, 2004

A digestão da mentira

Acabo de confrontar-me com a tua mentira. Agora mesmo. Sem dar tempo ao pensamento, cliquei no Blogger e aqui me encontro, a digeri-la. Sim, é isso que se sente, um baque no peito, uma indisposição gástrica, o cérebro às voltas... Não consigo perceber por que mentiste, mas sei que a tentativa de compreensão do facto me vai ocupar o resto do serão. É certo que assim será. É este o poder da mentira. O baque vai virar dor, a indisposição progredirá para dispepsia franca e o redemoinho de pensamentos culminará em cefaleia. Felizmente, já inventaram os coxibes.
Amanhã estarei de volta.

sexta-feira, outubro 22, 2004

Mais sonhos

Acordei. Dobrei com todo o cuidado o sonho. Dobrei-o quatro vezes.
d
Em Arcas de Sonhos, de Renato Roque

segunda-feira, outubro 18, 2004

Pergunta e resposta

- És uma pessoa apaixonada?
- Sim, sou. Pela vida, em geral, e por ti em particular.

sábado, outubro 16, 2004

Sonhos

As minhas mãos estavam molhadas com o suor do sonho. Cheiravam a mel e a margaridas. Levantei-me da cama e entrei na casa de banho. Abri a torneira da água quente e lavei as mãos. Só água muito quente permite tirar o cheiro de um sonho das mãos. Os restos do sonho soltaram-se quando já não conseguiam suportar a temperatura da água. Vi-os escoarem-se pelo ralo do lavatório. Enxuguei as mãos e levei-as ao rosto. Senti ainda uma réstia de um cheiro a tulipas. Os meus olhos piscaram ao ritmo do bater das asas de uma borboleta. Algumas imagens dispersas cruzaram pela última vez a minha memória.
Em Arcas de Sonhos, de Renato Roque

quarta-feira, outubro 13, 2004

Sensatez - II

Nunca voltes ao lugar
Onde já foste feliz
Por muito que o coração diga
Não faças o que ele diz

Nunca mais voltes à casa
Onde ardeste de paixão
Só encontrarás erva rasa
Por entre as lajes do chão

Nada do que por lá vires
Será como no passado
Não queiras reacender
Um lume já apagado

São as regras da sensatez
Vais sair a dizer que desta é de vez

Por grande a tentação
Que te crie a saudade
Não mates a recordação
Que lembra a felicidade

Nunca voltes ao lugar
Onde o arco-íris se pôs
Só encontrarás a cinza
Que dá na garganta nós

São as regras da sensatez
Vais sair a dizer que desta é de vez

Carlos Tê / Rui Veloso

Sensatez - I

Este post é para ti. Tu também sabes que sim. Não, não te vou repreender, criticar, maçar... Sei bem o que tens passado (tu sabes bem o que tens sentido sobre o que tens passado), mas acho que é preciso recordar-te que, de momento, há esferas da tua vida que precisam da tua dedicação e atenção urgentes e que todas as outras devem ficar em stand by... Faz uma das coisas pelas quais sempre te admirei e em que te considero exímio: racionaliza (acredita, digo isto sem um pingo de crítica e com a maior honestidade). Se não for por ti, fá-lo por mim. Não me desiludas. Dito isto, deixo-te aqui a letra d' As regras da sensatez. Para bom entendedor, uma música basta.

terça-feira, setembro 28, 2004

200 km

Este cair da tarde, cada vez mais outonal, traz-me aquela nostalgia do verão, deste verão... Basta-me fechar os olhos e este calor transporta-me para a temperatura que senti em Trás-os-Montes, para aqueles lugares, para aquelas gentes...
Não consigo. Por mais que tente, não tenho encontrado forma de descrever o que representaram para mim as férias que lá passei... E o mais engraçado é que nem foram verdadeiramente férias, trabalhei todas as manhãs (e algumas noites...), mas nem me apercebi disso. Estas férias foram tudo o que eu precisava, na hora exacta e no local mais-que-perfeito. Agora, à distância da saudade, tudo me parece um sonho. Mas foi real, o importante é que vivi esse sonho e posso revivê-lo na minha cabeça as vezes que eu quiser e posso ir lá buscar forças durante o ano - garantidamente árduo - que se avizinha, quando elas começarem a faltar - o que irá, muito provavelmente, acontecer...
Mas isso basta-me, eu sou assim... No fundo, sempre me alimentei de sonhos (passados ou futuros) e, enquanto os houver, estou a salvo.
Foi preciso fazer 200 km para recuperar o fôlego, para renovar a esperança, para reatar a minha paixão pela Medicina...
Como era bom que tantas outras coisas se resolvessem com 200 km...

sexta-feira, setembro 17, 2004

Recado

Não, J.F., não me esqueci do post prometido. Mas ando profundamente desinspirada, cansada, desmotivada, nervosa, e um pouco farta de tudo. Peço-te apenas paciência.

quarta-feira, setembro 01, 2004

Sem que "hajam" novos dados...

Não sou pretenciosa ao ponto de achar que não cometo erros gramaticais ou utilizo sem mácula todas as construções frásicas. Mas também não me chamo José Rodrigues dos Santos nem sou Directora de Programas de Informação da RTP1. Além disso, começo a irritar-me com as perguntas pouco inteligentes que a maioria dos pivots de televisão faz nas entrevistas. Ultimamente, já só gosto do Mário Crespo (esse é delicioso!), do José Adelino Faria e do Carlos Fino; a Conceição Lino também já deixa saudades, no Hora Extra, onde estava no seu melhor.

Outsider

Entrei no autocarro. Validei a senha, como de costume, naquele gesto distraído e automático. Sentei-me num dos bastantes lugares vazios. O percurso, em direcção a casa, é um dos que faço repetidas vezes.
Mas, desta vez, fui tomada por uma sensação de estranheza e repúdio pela minha cidade. Talvez me devesse envergonhar de o sentir, mas a honestidade sentimental obriga-me a confessá-lo: repúdio. Senti que podia renegá-la, sentir-me estrangeira a ela e a ideia fez-me esboçar um sorriso. É pena que essa não-familiaridade vá durar pouco...

quarta-feira, agosto 18, 2004

De partida

Parto com o corpo mais pesado (no carro levo ainda um folar de 2 kg encomendado na Padaria Macedense e um queijo de cabra caseiro) e a alma mais leve.
Escrito a 16 de Agosto de 2004

Sexta, 13

Não me carimbaram todas as folhas como era pedido nas Instruções (espero não ter problemas quando as entregar para receber a caução).
Cheguei atrasada para buscar o F. à estação de camionagem.
Planeámos ir a Podence, à Casa do Careto, mas atrasámo-nos e desistimos por já não irmos a tempo. Fomos, então, ao Azibo. Nas pressas de tirarmos apenas algumas fotografias e imprimir na retina a restante paisagem que a objectiva não consegue abarcar, estacionei o carro em paralelo com o passeio, não o travei devidamente, não engatei a mudança. Quando procurei fixar novamente o carro, no regresso, o lugar estava vazio. Uns metros mais abaixo, lá estava o Golf, enfaixado na vedação...
Em seguida, fomos jantar ao Maria Rita. Não tínhamos dinheiro e lá não tinham Multibanco. Fizemos cerca de 11 km até Mirandela e outros tantos na volta para podermos pagar o jantar.
Finalmente, a noite acabou num barzinho sobre o Tua. Conheci o P.. Até nem sou supersticiosa com o 13, mas depois destas peripécias todas, só espero que ele não se venha a converter em mais um dos azares desse dia.

Enfarte com vista para a Praça dos Segadores

Peço uma caneta emprestada para escrever no meu caderninho (que foi comprado propositadamente para esta viagem, com as dimensões adequadas para caber no bolso da bata, mas que acabou por se tornar no suporte de papel onde escrevo os posts que publico a partir dos computadores do Espaço Internet cedido pela Câmara...).
Espero que me sirvam o jantar. É curioso, foi aqui que jantei na primeira noite em que cheguei a esta terra. Esta semana tenho sentido um aperto no peito, que começou de forma insidiosa, é intermitente, irradia para a alma, agrava à medida que o regresso se avizinha e não tem posição antálgica. Não consigo deixar de o sentir, mas tenho-o mantido controlado. Não quero que este sentimento de saudade antecipada me embote os sentidos. Quero experimentar tudo, até ao último momento. Não lido bem com despedidas, é verdade ("Parting is such sweet sorrow...", como dizia Shakespeare), mas também não tenciono despedir-me do Nordeste Transmontano. Pretendo dizer-lhe somente um até já...
O meu jantar chegou. A noite afigura-se longa: ainda tenho que voltar ao Hospital e depois sigo para a discoteca de decoração egípcia (hoje, com direito a sessão de strip).
Escrito a 12 de Agosto de 2004

segunda-feira, agosto 09, 2004

Férias do quotidiano

Agrada-me a ideia de estar num lugar em que ninguém me conhece; ou, por outra, em que ninguém conhece a minha história. Esse anonimato biográfico imprime outro ritmo aos meus passos. Não que tenha algum episódio escabroso a esconder. Simplesmente me fascina o facto de eu não saber nada sobre ninguém e o inverso também ser verdade. Gosto de olhar para os vários rostos e nenhum me ser familiar. Aqui existe efectivamente a possibilidade de voltar a nascer (será que é uma questão de lugar ou de tempo?).

quinta-feira, agosto 05, 2004

Fragmentos

AVC de repetição. Relatório de TC abdomino-pélvica novamente em falta. Arritmia. Febre escaro-nodular. Massa de bacalhau. Piropos de emigrantes franceses (suíços?). IP4. Casa dos Távoras. Rio Tua. IP4. Café na esplanada. Passeio pelo largo da Câmara, entre a fonte luminosa e as brincadeiras da miudagem.

Fases

A lua em quarto-minguante e a minha paz em quarto-crescente.
Acho que poderia viver aqui. Se bem que os lugares sagrados não são para habitar; são para visitar. Nunca os devemos conhecer totalmente. Julgo que aí deixam de ser sagrados...

Fotografia incriminatória

Houve um rancho na praça. E trajes tradicionais. E acordeão. E as palmas do público a acompanhar. Não fosse o meu ímpeto citadino de posteridade - freeze-framing do momento em máquina fotográfica digital - e teria feito parte da multidão.

quarta-feira, agosto 04, 2004

Causa-efeito

Tenho sentido muito, o que cria muita matéria para moldar em palavras. Mas esta terra deixa-me entre o silêncio e a agrafia. Muito poucas coisas na vida têm este efeito sobre mim.

Terra Quente

Vim de viagem. Sozinha. Mas não, a solidão não veio comigo. E curiosamente, numa terra onde não conhecia ninguém, vim encontrar uma conhecida que já não via há 5 anos. Nem que trouxesse a solidão comigo ela teria forçosamente que partir. Mas não. Embora num lugarejo desconhecido, Trás-os-Montes tem invariavelmente o mesmo efeito sobre mim: lava-me a alma. Faz-me sentir segura. Não sei se é o abraço sólido das montanhas, se é o calor que aquece até os cantinhos mais recônditos da alma, se são as gentes humildes e afáveis. Sei que na viagem de volta vou com a alma transparente. E desta vez estava escrito que viria aqui encontrar o meu futuro. E eu acredito. Mas a volta ainda está longe... Felizmente.

terça-feira, julho 27, 2004

Boas e más companhias

Outro dia, a propósito de uma viagem que farei brevemente, sozinha, perguntavam-me se não me afligia a falta de companhia.
Não, a solidão não me aflige. A solidão é uma boa companhia. Nunca chega demasiado cedo (as outras companhias é que, por vezes, partem antes do tempo). Nunca é inoportuna - ela aparece quando tem que aparecer. Ela é verdadeira e altruísta (vem por nós, para nós, sem qualquer outra motivação). A solidão entrega-se a nós por inteiro, fica connosco noite e dia, se necessário, até ao ponto de se tornar a nossa solidão.
Uma companhia assim pode, adicionando-lhe longas porções de tempo, converter-se em algo insuportável. Podemos cansar-nos dela como de tantas outras coisas na vida que se tornaram rotineiras. Mas aí a culpa continua a residir em nós. A solidão vai-se quando tem que ir, porque não é preciso mandá-la embora; se entretanto arranjarmos outra companhia ela parte sem fazer escândalos, sem se sentir preterida e é certo que voltará para nós na devida altura.
Não. A solidão não me aflige. A mim o que me aflige são as más companhias.

sábado, julho 17, 2004

Clínica de um sentimento - fim

Por não saberes palpar (as rochas), parou a bomba que ejecta as palavras através da grande circulação dos poemas e da circulação dos sentimentos ainda pequenos. O sal secou na parede dos vasos. Na minha boca entreaberta ficou uma alga misturada com grãos de areia.
As ondas do meu cabelo deixaram de se enrolar no vento.
Devido à tua inépcia no exame físico, morri na praia.

sexta-feira, julho 16, 2004

SMS

Fui apanhada de surpresa com as novidades do blogger (acho que foram para melhor!).
Também gostava de ser surpreendida na minha vida (algo do género daquele anúncio já um pouco antigo do Impulse "E se um estranho lhe oferecesse flores?" não era mau...), mas aí continua tudo na mesma...
Enfim, também já estou hipoglicémica e não consigo escrever nada de jeito... Vou almoçar! Até logo!
Pink kisses

quarta-feira, julho 14, 2004

Clínica de um sentimento

Soubesses tu auscultar o mar e palpar cada contorno das rochas e talvez diagnosticasses os segredos que as ondas do meu cabelo contam quando se enrolam no vento...

segunda-feira, julho 12, 2004

Escrever

Estou desapacientada! Sim, desapacientada e sem nenhuma preocupação com a escolha da palavra que fica melhor na frase. Escrever. Freneticamente. Mecanicamente. Relógios moles!... Surreal é a minha impaciência! Estou farta deste cheiro a tempo passado que inunda o quarto! A janela empenou. Até o papel onde escrevo asfixia. Só me apetece escrever, não escrever nada, escrever tudo, escrever qualquer coisa com ou sem nexo. Sinto um desejo animal de escrever pelo simples prazer de escrever. Escrever, assim, sem preocupações parnasianas, com o pensamento desligado, sem qualquer tipo de correcção formal, lógica. Escrever sem querer saber se sou eu a criadora e o escrito a obra, se sou eu que escrevo ou se é o meu outro Eu a escrever, sem sequer me interessar pela qualidade da escrita. Unicamente o acto. Olho pela janela. A noite reclama originalidade. O relógio marca a hora da Quase-Mudança. Eu, só quero paciência!

sexta-feira, julho 09, 2004

E a morte perderá o seu domínio

E a morte perderá o seu domínio.
Nus, os homens mortos irão confundir-se
com o homem no vento e na lua do poente;
quando, descarnados e limpos, desaparecerem os ossos
hão-de nos seus braços e pés brilhar as estrelas.
Mesmo que se tornem loucos permanecerá o espírito lúcido;
mesmo que sejam submersos pelo mar, eles hão-de ressurgir;
mesmo que os amantes se percam, continuará o amor;
e a morte perderá o seu domínio.

E a morte perderá o seu domínio.
Aqueles que há muito repousam sobre as ondas do mar
não morrerão com a chegada do vento;
ainda que, na roda da tortura, comecem
os tendões a ceder, jamais se partirão;
entre as suas mãos será destruída a fé
e, como unicórnios, virá atravessá-los o sofrimento;
embora sejam divididos eles manterão a sua unidade;
e a morte perderá o seu domínio.

E a morte perderá o seu domínio.
Não hão-de gritar mais as gaivotas aos seus ouvidos
nem as vagas romper tumultuosamente nas praias;
onde se abriu uma flor não poderá nenhuma flor
erguer a sua corola em direcção à força das chuvas;
ainda que estejam mortas e loucas, hão-de descer
como pregos as suas cabeças pelas margaridas;
é no sol que irrompem até que o sol se extinga,
e a morte perderá o seu domínio.


Dylan Thomas


Considera-o uma espécie de tributo ao teu avô, H.. E lembra-te também da dedicatória que te fiz no "Platero y Yo"...

quinta-feira, julho 08, 2004

Afinal...

a promessa não se cumpriu (será que tinha sido feita por algum político?!). Felizmente, no entanto! A vida bem que nos troca as voltas... Mas sabe bem, chegar ao fim de um dia que tinha bastante para correr mal e constatar que os prognósticos estavam errados. É a prova de que também se pode apreciar um dia perfeitamente banal.
E viva a fruição da banalidade!!

Claro que o dia ainda não terminou e pode sofrer uma inesperada reviravolta!...

O dia promete...

não ser nada, mas nada-nada cor-de-rosa!

quarta-feira, julho 07, 2004

Sort of pink

Hoje consegui escapar à injecção sub-tóxica diária daquilo que não ouso sequer nomear, graças ao Milan Kundera (quer isto dizer, por outras palavras, que o dia não começou nada mal!).
Decidi contrariar aquilo a que ontem apelidei de "a negação da minha pessoa". Pode ser que ter a decisão, assim, escarrapachada no blog, tenha mais força que mantê-la somente em pensamento.
E agora, depois de uma viagem anestésica pela blogosfera (há blogs que vou descobrindo e dos quais me vou tornando fã e que brevemente adicionarei à minha lista de links) - pelo menos aqui a incursão é garantidamente cor-de-rosa - volto ao trabalho...

P.S.: F., seu desgraçado, ainda não me adicionaste aos teus links!! Boa viagem para Lx e depois falamos.

sábado, julho 03, 2004

Insolucionável

Tenho um problema de Arquitectura para solucionar.
O que é deveras preocupante porque essa não é a minha área e não entendo de desenho geométrico. Descobri um erro de projecto num edifício de longa data e cuja solidez nunca pus em causa. A questão talvez seja estupidamente fácil para ti, mas enferma do facto de seres parte do problema, o que te exclui da solução. Passo a explicar melhor: hoje apercebi-me do mal que é construirmos os nossos pilares num terreno fora de nós mesmos, mais especificamente, no terreno que constituem os que nos são próximos... Creio que também nasce aqui uma contenda legal, isto de construir em terreno alheio e sem autorização prévia (mas, de momento, preocupa-me a questão "arquitectónica")...
Apercebo-me da inconsciência na realização do projecto, mas pergunto-me por que é que isto tinha que acontecer logo agora que o meu edifício tem sofrido abalos sucessivos, como é possível?, sempre pensei que se o topo ruísse ficaria, pelo menos, a fundação. Hoje sei que essa crença não passou de um equívoco. E sinceramente não sei como solucionar a questão. Estou com um nó algures entre a cabeça e o coração e não consigo sequer oxigenar suficientemente as palavras. Não percebo de Arquitectura, mas qualquer um sabe que uma construção não pode manter-se erguida sem alicerces.
Resta-me re-equacionar tudo. Parece que vou ter que voltar à estaca zero. Tenho que tornar-me pilar e edifício. Suspeito é que já não vou a tempo de entregar o projecto dentro do prazo para executar a obra.

quarta-feira, junho 30, 2004

Um cenário perfeito

Hoje a minha verve (que presunção!...) não está muito apurada, talvez pelo efeito da faringe ruborizada, um pouco edematosa e claramente dolorosa, agravado pela subida da coluna de mercúrio acima do primeiro valor a cor vermelha (sim, ainda não aderi aos digitais...) e pela sonolência produzida pelos anti-histamínicos e outros que entram na composição dos dois comprimidos que engoli há pouco com água mineral... Ou talvez por nenhum motivo.
Ganhámos :)!! É o delírio nacional, que seja, mas francamente vibrei bem mais no jogo com a Inglaterra, eles jogavam melhor que (diferente, pelo menos) os holandeses, o jogo teve mais luta (sim, compreendo que agora os tugas estejam mais cansados) e o sofrimento até ao fim foi de arrasar os nervos... E grelhar os bifes sabe sempre melhor que espremer as laranjas! Mas, que ninguém diga o contrário, estou muito contente por se ter feito história no futebol português! Os restantes comentários e análises deixo-os para os entendidos no assunto.
No entanto, celebro com maior alegria o teu regresso a terras lusitanas, H.... A vitória da Selecção não vai mudar a minha vida, mas tu e o teu regresso, sim. Quem faz parte da nossa vida (e até quem não faz, mas que pode intersectá-la, inesperadamente, a qualquer instante) tem sempre esse dom. Daí que eu esteja, assim, com este sorriso meio-idiota-meio-feliz (aliás, meio-idiota-feliz-por-inteiro), frente ao ecrã...
E tudo isto, numa noite de lua quase-cheia...

segunda-feira, junho 28, 2004

Tempo

[...]

Tempo de matar, tempo de criar,
E tempo para todos os trabalhos e os dias, de mãos
Que se erguem e te deixam cair no prato uma pergunta;
Tempo para ti e tempo para mim,
E tempo ainda para cem indecisões
E outras tantas visões e revisões
Antes de tomar o chá e a torrada.


[...]

T.S. Eliot

Hoje é imperioso que assim se cumpra.

domingo, junho 27, 2004

Rosa ternurento

Hoje a travessia do dia foi conseguida com a ajuda de umas longas e boas horas de sono na noite anterior, tão preciosas para tudo o que tinha planeado fazer.
Ao fim do dia, valeu-me a vitória da equipa do país que te resgatou e que torna esta saudade por vezes doce, por vezes amarga. Hoje foi simplesmente um bálsamo doce (talvez pela proximidade do teu regresso...). Muito haveria a dizer acerca desta vivência da saudade na tua ausência de meses, mas isso ficará para outra ocasião.
Beijo ternurento.

domingo, junho 13, 2004

Re-nascimentos

Isto de renascer é perigoso... Mas aconselho-te vivamente a fazê-lo, F. (a taxa de natalidade anda um pouco por baixo... Como andará a de re-natalidade?)!!
É preciso, no entanto, ter em atenção que deves renascer por ti. Quando nasceste não tiveste que te preocupar com nada. Para o trabalho árduo estava lá a tua Mãe. Mas agora, se bem que a salvo da pré-eclampsia, do Síndrome HELLP, dos ACIU e das infecções do grupo TORCH (como foi possível escapar ileso a tudo isto?!), não tens o amor maternal e as contracções uterinas a ajudar! Agora és tu quem escolhe o momento. E é bom que faças o esforço sozinho porque a não ser a tua Mãe (desse ventre já não podes voltar a nascer, infelizmente) não há mais ninguém em quem possas verdadeiramente confiar para tal tarefa. Isto do re-nascimento é um processo solitário. Mas é necessário que assim seja...

É verdade que é sempre bom teres alguém para te cortar o cordão e segurar em ti. Mas acautela-te de que essa pessoa é de confiança e te tira as circulares do cordão a tempo... Uma bradicardia não vinha nada a calhar num coraçãozinho acabado de nascer...
Às vezes surpreende-me a facilidade com que as pessoas são desleais umas com as outras... E não me estou a referir a duas pessoas quaisquer. Não. Falo de deslealdade entre amigos, entre amantes. Não consigo compreender o que ganham com isso. Ou talvez consiga; mas é um ganho meramente imediato ou, quando muito, a médio prazo. A artimanha, a mentira, o jogo-de-bastidores não criam laços duradouros. Não. São apenas sementes para a desconfiança, a discussão, a revolta que o tempo se encarregará de trazer...
As relações já são demasiadamente complexas. Para quê isto?! Se calhar é precisamente por isto que as relações são o que são. O ser humano e a sua extraordinária capacidade de complicar as coisas!
Quem lançou a 1ª semente maldita? Precisa-se de um pouco mais de verdade. Até lá, fica-se à espera que as máscaras caiam...
Este meu 1º post é para ti (como poderia ser senão assim?). Sempre gostei muito de receber prendas tuas. São quase sempre uma incógnita (e a mim, constatei isso recentemente, fascina-me mais a surpresa do que a prenda propriamente dita) e revelam-se originais e divertidas. É-me impossível conter o riso sempre que olho para o "original englishman egg"!!
Mas desta vez foi ainda mais especial. Ofereceste-me um blog. Sim, um blog. Uma grande página em branco. Com toda a potencialidade que uma página em branco possui e todo o significado que isso tem para mim. A Escrita. Esse prazer indizível. Mas mesmo que eu não escrevesse uma única linha no blog a potencialidade continuava a estar lá. E foi isso que mais me agradou (os últimos presentes do género foram, talvez, os Lego ou as bonecas para as quais construía identidades e histórias...).
Só mesmo tu (sorriso). Thank you. 4 pink kisses.

domingo, abril 25, 2004

Porque já estava na altura. (kisses, Fernando)