Um 2009 nunca pior que 2008!
quarta-feira, dezembro 31, 2008
domingo, dezembro 28, 2008
11.03.94 - 26.12.08
Foi um bom amigo e companheiro. Sobretudo de longas caminhadas no passadiço de madeira, à beira-mar. Diziam dele que era um pouco arisco. Olhos amendoados e pêlo flâmeo. Pautado pela esperteza e travessura.
Era o meu irmão de quatro patas. Foi-se num glacial dia de Dezembro.
quarta-feira, dezembro 24, 2008
Cleanin' up the locker
Não foi aquele momento televisivo cheio de spleen, com a personagem em contraluz, uma música pungente no ar, só entrecortada pelo som dos objectos a chocarem acidentalmente contra a superfície metálica do cacifo, enquanto uma mão os remove lentamente dali.
Na vida real tudo é mais cru.
As socas cor-de-rosa já bastante sujas fizeram demasiado barulho a serem guardadas no saco plástico de uma qualquer loja de roupa, a bata, também ela ávida de detergente, foi amarrotada apressadamente, tendo sido a tralha acumulada nos bolsos atirada para outro saco (de papel, de uma loja de artigos para o lar). Por fim, o estetoscópio dobrado com algum cuidado (convenhamos que não é barato, além de ser um companheiro de grande utilidade - o meu ainda possui as olivas originais). Fecha-se o cacifo, encerra-se um ciclo.
Entrega-se a chave, é devolvida a caução.
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Em Janeiro, tudo recomeça.
domingo, dezembro 21, 2008
The last (2)
Desta feita não tirei fotografia. Não houve tempo. A loucura foi tanta que quem ia fazendo uma hipoglicemia era eu. Tiveram que me enfiar um iogurte líquido goela abaixo para impedir que me estatelasse no chão daquele salão apinhado de macas.
Nesta altura do ano (e só agora começou a doer a sério) não lhes invejo a tarefa. Mas vou ter saudades das pessoas. Aprendi muito, apesar de tudo.
Todavia, acabou. Foram 106. A partir daqui, só por minha vontade e mais bem remunerada.
quarta-feira, dezembro 17, 2008
Senhas de refeição
Aproximava-se do balcão e pedia ao funcionário, sem hesitar, "um bloco de senhas".
Totalizavam dez.
Fê-lo num grande número de vezes, número esse que desconhece.
Hoje, antes de se aproximar do balcão, consultou o calendário.
Contou os dias. Pediu somente cinco.
terça-feira, dezembro 02, 2008
quinta-feira, novembro 20, 2008
Jogos de palavras
A vida é feita de pequenos prazeres.
Eu tenho a sorte de ter um grande em tamanho pequeno.
Ou antes, no tamanho suficiente.
domingo, novembro 09, 2008
Inverno
O silêncio por aqui anda duro como o frio que veio de repente.
Peço perdão. Ultimamente é coisa que peço muito.
Disto é que eu precisava. Na verdade, agora precisava era mesmo de uma primavera.
Consola-me que a vá ver ao vivo no Sábado.
E para combinar com o estranho período que se vive, tenho um bilhete em excesso de uma companhia.
segunda-feira, novembro 03, 2008
In short
Ando a tentar roubar à noite as horas que o dia não me dá. A custo.
Felizmente existe o fond de teint.
domingo, outubro 19, 2008
Atentai no que digo
O mostrengo cor-de-rosa
A constante odontalgia, a impossibilidade de mastigar e a necessidade de comer tudo bem passado. A face inchada. A deficiente articulação das palavras, de novo as queixas dolorosas, a ferida no lábio inferior à conta do power-pin. Já para nem falar do facto de meter medo ao susto cada vez que abro a boca. É assim que estou após a montagem do aparelho inferior e dos elásticos intermaxilares. Nem o facto de serem todos cor-de-rosinha me safa.
segunda-feira, outubro 13, 2008
Como as folhas que começam a cair
Muitos são os posts que têm ficado suspensos.
A imagem afigura-se paradoxal.
Não é, de facto. A verosimilhança reside na quantidade.
Na quantidade de posts que não se materializam fora da minha cabeça. Por carência de tempo.
Repetidamente, o paradoxo.
sábado, setembro 27, 2008
Farta da palhaçada que são as Urgências naquele hospital
Acabadinha de vir de uma noite fértil em imbróglios, e com a indignação a fervilhar dentro de mim, deixo-vos aqui uma frase que um especialista me disse hoje e que, concordarão, não carece de mais explicações:
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- Já devias saber que os senhores Professores não vêem doentes.
segunda-feira, setembro 22, 2008
segunda-feira, setembro 15, 2008
domingo, setembro 14, 2008
sexta-feira, setembro 12, 2008
É como reza a música
As coisas andam estanhas. Talvez seja uma fase. Nem se pode dizer que andem más, não é isso.
Andam estranhas.
Hoje acordei com a música que diz tudo na minha cabeça.
domingo, agosto 31, 2008
Ironias da vida
Estrangeiro, vinte e poucos, trazido pelo INEM por taquicardia (pulso a cerca de 160/min).
Vinha de um desses festivais de verão, tinha tomado anfetaminas e ecstasy e vinha a suar, afogueado e a queixar-se de palpitações e náuseas.
Envergava uma dessas t-shirts com frases. Na dele lia-se TRUST ME, I'M A DOCTOR.
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episódios engraçados,
maratona de bancos
sexta-feira, agosto 15, 2008
Summer bits
Quando temos tempo e vontade é que não há PC. Haver, há. Mas está para arranjar. Sem data de volta.
De volta, a casa. Eu. Dias de férias. Degustar a cidade e as frases de Francisco José Viegas. Nas praias de Gaia. Sozinha.
Que estás sozinha. Bem sei. E nada do que digo parece animar-te. Nem podia. Embora saiba perfeitamente como é. Mas nessa situação, nada nos anima.
Ânimo, às vezes, porém, só os amigos. Por telefone, de Ponta Delgada, a dizer que o nosso artigo foi aceite para publicação numa revista internacional. E pensar que quando elaborámos os inquéritos e os fomos aplicar, os tempos eram tão diferentes...
O tempo. A euforia, primeiro. A saudade, que me apanhou desprevenida e parece ter vindo para ficar. O H. é que sabia. Memorizei a frase por me parecer sonante, na época. Hoje, relembro-a com a claridade da compreensão. Disse-me que é preciso sair e viver longe do Porto para se amar realmente a cidade. E que, a cada vinda, ela se torna mais bela. Caramba, não sei do teu paradeiro há meses. Vou enviar um mail. Aproveitar Net e PC alheios, enquanto há tempo.
terça-feira, agosto 05, 2008
terça-feira, julho 29, 2008
Pelo caminho das águas
Só encontramos as coisas quando deixamos de as procurar.
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Quase chorei, na Fnac, ao segundo 28 da primeira faixa de Segundo, de Maria Rita. O reconhecimento daquela que, para mim, ficou gravada na memória como a música de Jeri.
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Para vocês, no original.
sexta-feira, julho 25, 2008
terça-feira, julho 15, 2008
quarta-feira, julho 09, 2008
Desculpa aos leitores
Só agora me apercebi que a desformatação do layout se acompanhou do desaparecimento de muitas fotografias que tinha no blogue. Quando tiver tempo (e ajuda), solucionarei o problema.
Coisas que não param de me surpreender nesta cidade
O número de pessoas é tão finito, que há um momento em que as opções se esgotam e se começa a recorrer aos amigos dos ex.
Podem agora imaginar a complexidade das relações sociais.
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e para ajudar à festa,
é Verão...
sábado, julho 05, 2008
Música no Parque
O vento traz o som dos Clã do Festival Super Bock Super Rock até à minha janela. Estou na secretária, de Rotring de estimação na mão, a trabalhar. Com pouco esforço, imagino-me na faculdade, durante a Queima, a estudar para os exames finais.
quinta-feira, julho 03, 2008
quarta-feira, julho 02, 2008
Três
Acabou. Foi muito tempo. Foi, aliás, todo o tempo.
Ainda é cedo para falar. E para aquilatar. Em breve, talvez.
Doravante, tudo será diferente.
sexta-feira, junho 20, 2008
O Euro de uma penada
Correu-lhes mal, aos governantes.
Agora, o povo vai ter que voltar a lembrar-se do preço dos combustíveis, da subida do preço dos bens de primeira necessidade, das taxas de juros dos empréstimos, dos exames nacionais e notas dos filhos (embora aí o plano B já esteja em acção, com uma caterva de notas votadas em concelhos de turma e provas nacionais fáceis).
Para o povo, é uma dupla derrota.
quinta-feira, junho 19, 2008
Voltar à Vila Velha de Vila Real
Não voltei lá desde aquele dia. Desde logo, gostei de saber que no IP4 somos avisados da entrada no Reino Maravilhoso. O barro de Bisalhães permanece no mesmo sítio. As ruas estão enfeitadas, afinal é Santo António. A Vila Velha tem cara nova, com direito a museu moderno e horário alargado. Tudo diferente do que me lembro. Mais diferente ainda para a minha mãe, que não conteve as lágrimas. Tirando o tasco da D. Perpétua (que faz jus ao nome da proprietária), a casa das Marianas, a casa escura onde a Menina Inocência se sentava todos os dias à janela, a ver quem passa, as traseiras da casa da minha avó onde brincava eu, o Toy, e as pretinhas, a rede que cercava o Liceu e as traseiras do cemitério com lixo e preservativos abandonados no solo de terra batida, e tantas outras coisas que eu já não cheguei a conhecer, tudo o resto deixou de existir. Excepto as papoilas. Essas mantêm-se a polvilhar as encostas que descem até ao Corgo.
Depois, houve ainda covilhetes da Gomes e pitos da Lapão, a voltinha clássica pelas ruas onde, infelizmente, agora florescem lojas de chineses - até no antigo Excelsior! O café vagaroso no Clássico, os grupos de música tradicional na Praça e ainda Martinho da Vila no Teatro.
Gostei mesmo muito desse dia.
Volto no São Pedro.
sexta-feira, junho 13, 2008
As ditas férias
Questionam-me acerca das "férias grandes". Estão a ser agora, digo eu. Mas e isso são férias, enfiada no hospital? E a trabalhar em contra-relógio, a implorar aos administrativos do Arquivo para me fornecerem os processos em tempo record. A alombar pilhas de processos e a regressar a casa todos os dias cerca da meia-noite, desabafo. Eu se fosse a si, dizia ao chefe que me recusava.
Neste ponto da conversa eu encolho os ombros, reviro os olhos e suspiro.
Very short hair
Está tão curto que é impossível fazer um rabo-de-cavalo ou mesmo juntá-lo num puxo, com as mãos, no banho. Dizem-me que pareço mais nova e fresca. Como se eu fosse velha!
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apeteceu-me mudar de look,
coisas que me dizem
sexta-feira, junho 06, 2008
Bits of happiness
Figueira da Foz. 24ºC. A14. 140 km/h. Ain't Got No... I Got Life na voz de Nina Simone.
terça-feira, junho 03, 2008
Adiar
Não devemos adiar. Sobretudo as coisas importantes. As inadiáveis.
Mas até essas adiamos, porque agora estamos com pressa, pressa de chegar, de fazer, de sair, sempre os prazos, os compromissos, as deadlines (ah, essa expressão tão cheia de significado)! Mas a verdade é que não morremos se não cumprirmos um prazo. Podemos, sim, complicar a nossa vida, perder uma oportunidade no trabalho, um evento importante.
Mas não, não morremos.
Não devemos adiar. As coisas inadiáveis. As despedidas. Sem o sabermos, até. Esses instantes de conversa que podem ser uma despedida.
Sempre tive tempo para ele. Toda a gente o conhece no Serviço. Um herói. Conheci-o pouco depois de ter começado a trabalhar ali. Nunca foi meu doente. Mas toda a gente o conhece dos corredores, da salinha de televisão, dos lugares por onde passeia o saco negro da quimioterapia que o ajuda no combate do cancro metastizado. Um herói. Eu acredito que o que o mantém há mais de um ano nisto é o optimismo. Férreo. A quimioterapia só dá uma ajuda. Nunca foi meu doente, dizia eu, mas, claro, todos o conhecemos, um dos quartos foi durante semanas a sua casa, e a cada ciclo passa lá um dia ou dois, todos o conhecem pelo nome. Eu, tagarela como sempre, e desde que ajudei o colega que era o assistente dele quando ele teve um enfarte agudo do miocárdio, tornei-me amiga dele. Amiga de conversas de corredor, de visitas ao seu quarto, de pedaços da história da vida dele, contou-me muita coisa, como conheceu a esposa, os tempos em Vila Real, os tempos em Angola. Tornámo-nos amigos, vá. O tempo passa melhor quando se tem alguém para conversar. Ultimamente andava mais magro, o apetite a escassear, a anemia teimosa. Desta vez, regressei de férias e andava assoberbada, não soube imediatamente que ele estava internado, estou noutra ala. Cruzei-me com ele nos elevadores, sorridos rasgados, Como tem passado?, Tenho de arranjar um bocadinho para darmos duas de conversa!, Oh, Dra., eu não vou a lado nenhum, vá lá tratar das suas coisas e depois falamos.
Ele nunca foi meu doente. E por isso, pensei que não havia mal em ofertar-lhe uma coisa. De que tínhamos falado uma vez e eu sabia que ele gostava. Um mimo para o estômago. Pensei, é amanhã, no dia em que vi o meu colega a falar longamente com a esposa dele no corredor.
No dia seguinte fui à procura dele. Tinha tido alta. Quando voltava? Oh, Dra., acho que não volta. Já não tem condições para fazer mais ciclos, o seu colega ontem esteve a falar com a esposa, a explicar-lhe que já não há mais tratamentos para fazer, que ela agora lhe deixe fazer tudo o que ele quiser.
Ia conversar com ele, como de costume. Sim, estava à vista de qualquer um o abatimento físico, o cansaço a articular as palavras, a palidez cutânea. Mas a chama ainda se mantinha nos olhos e o aperto de mão (embora os dedos estivessem mais emagrecidos) tinha a mesma energia. Perdi essa oportunidade de me despedir. No dia em que levei a caixa para o hospital, ele tinha tido alta e não voltaria. Ainda pensei em mandar-lhe as coisas pelo correio, mas não seria o mesmo. Fiquei mesmo incomodada. Da única vez que não conversámos, ele foi-se embora para morrer. Sem levar a caixa. Coincidência infeliz, decerto. Mas dá que pensar.
Bem sei que não nos é possível adivinhar todas as partidas, todas as últimas conversas, todos os momentos irrepetíveis, todas as despedidas.
Mas era bom que assim fosse. Porque há coisas que não devemos mesmo adiar, sob pena de a morte as adiar eternamente por nós.
domingo, maio 25, 2008
Sábado de manhã
Percorremos a pé a Cedofeita, as Carmelitas, a Galeria de Paris, a Rua da Fábrica. Sob as breves tréguas de nuvens cinzentas mas secas, apreciámos as montras, comprámos, relembrámos edifícios, fachadas e cafés.
É a este Porto que adoro voltar.
terça-feira, maio 20, 2008
Same old
Não, não emigrei, não desisti do blog, já não estou de férias.
Debato-me com a carga de trabalho que aguardava avidamente o meu regresso. E com a constatação de os vícios do nosso local de trabalho se tornarem mais visíveis quando regressamos de férias.
segunda-feira, maio 05, 2008
quinta-feira, maio 01, 2008
segunda-feira, abril 28, 2008
A Felicidade e o Paraíso
A Felicidade no Paraíso é mais fácil.
Mais surpreendente é tudo ser maravilhoso num ambiente adverso.
Há um ano estava no Paraíso, hoje estou aqui.
Felizmente não tive que escolher.
Mas se tivesse que escolher, não trocava.
Mais surpreendente é tudo ser maravilhoso num ambiente adverso.
Há um ano estava no Paraíso, hoje estou aqui.
Felizmente não tive que escolher.
Mas se tivesse que escolher, não trocava.
sexta-feira, abril 25, 2008
4 anos de Pink
Quatro anos. 4. Esse número que me é tão querido. Quando me ofertaram o blog nunca pensei chegar aqui. A vida tem esse condão de nos levar onde nunca pensámos ir.
Há um ano atrás, ela levou-me ao Brasil, numa viagem que me mudou. Mais do que as distâncias que percorremos no mapa, há longas jornadas que têm lugar (cativo) dentro de nós.
Há chão a bradar por quem o pise.
Seja por aí ou por ali, aqui há o desejo de continuar.
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1 cravo para cada um de vós,
Liberdade,
Vida
quinta-feira, abril 17, 2008
Explorada, não reconhecida e sem férias há vários meses
Ao acercarmo-nos das portas de vidro, com o símbolo da instituição, uma senhora que tinha descido comigo no elevador, muito provavelmente uma visita de algum doente, disse Ai, tanta chuva lá fora! Em condições normais, eu ter-lhe-ia sorrido, parado e abrandado o movimento de abotoar o casaco; ter-lhe-ia respondido algo como Vamos ter que nos abrigar bem!
Assim, nem me voltei. Na minha cabeça só ficaram a ressoar as palavras lá fora.
Com a mesma cara fechada com que desci o elevador, abotoei, célere, o casaco e avancei decidida para a chuva.
quarta-feira, abril 16, 2008
segunda-feira, abril 14, 2008
Ouvida este fim-de-semana, no Porto II
- Neste país passam a vida a tirar-nos coisas. Agora só faltava mesmo ficarmos sem o c#r$lh& da língua!
Ouvida este fim-de-semana, no Porto
- Ah, mas eu continuo a viver no Porto. Só não vivo no Porto de 2ª a 6ª!
quarta-feira, abril 09, 2008
Rara
Disseram-me hoje que uma das doentes que tenho nas minhas camas é caso único nacional. A motivação e o interesse em relação à doença são igualados com a minha impotência e o infortúnio da jovem.
Ter uma doença rara (e sem cura) não augura nada de bom. O tempo e a progressão da doença confirmam-no.
Regozijemo-nos, pois, com as doenças banais.
terça-feira, abril 01, 2008
Desejos simples
Deitar-me no horário comum das pessoas.
Mas, mais que tudo, sobreviver à semana.
Mas, mais que tudo, sobreviver à semana.
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palavra que não é mentira,
tough week
domingo, março 23, 2008
Chama
Com a paixão vem a loucura, a urgência. O mundo é uma coisa muito longe.
Não é que não sinta igual. Mas tenho também a lição aprendida da decepção.
Por isso, peço-te paciência. Para o meu medo ir cedendo com vagar.
Também eu quero arder na chama. Mas não numa labareda fugaz. Nem tão pouco em lume brando.
Antes, numa fogueira grande, daquelas ao ar livre, à qual vamos adicionando, eu e tu, alternadamente, grossos troncos de madeira.
O trio escola-família-hospital
Aconteceu no Carolina Michaelis, mas podia ter acontecido em qualquer outra escola do grande Porto. Pode-se tentar colocar a culpa no tipo de alunos que frequentam o liceu (sim, vou tratar o Carolina por liceu): podemos alegar que a envolvência habitacional do liceu é complicada. Que há certos bairros. Podemos advogar que a professora já não é jovem, que não tem a constituição física para fazer frente a uma aluna espigada e mal-educada do 9º ano. De facto, não acredito que a população de alunos do Carolina Michaelis tenha mudado assim tanto na última década e, além disso, os professores são professores; não têm que ser cinturão negro de judo ou praticar boxe. Mais, isso são apenas desculpas e, creio, não vão ao âmago da questão.
O problema, contrariamente ao que ouvi um colega Psiquiatra comentar na TV (não podiam ter escolhido alguém que mais longe estivesse da realidade dos adolescentes e das escolas), na minha opinião, radica precisamente na família. Ou na alteração da dinâmica que a mesma vem sofrendo. É um problema social e só quem não percebe nada disso é que pode afirmar que os pais não têm nada a ver com o que os filhos fazem nas aulas. As nossas crianças, com pais que trabalham todo o dia fora e quantas vezes longe de casa, que mal os vêem à noite e com os quais não conversam, atiradas para frente das televisões e dos computadores, agarradas aos telemóveis à mesa nos restaurantes, andam absolutamente desacompanhadas e pouco sabem - entre tantas outras coisas - do que seja uma figura de autoridade e de como a respeitar. Que isto vai de mal a pior, qualquer pessoa sensata já conseguiu perceber. A solução para o problema? Também não a tenho, não é de todo a minha área. Mas o problema, esse, é fácil de diagnosticar.
São as famílias. A falta delas, o facto de pai e mãe, ou figuras equivalentes, trabalharem todo o dia fora de casa e não terem a menor ideia do que se passa com os filhos. São estas mesmas famílias que, pelos mesmos motivos, abandonam os velhos doentes nas camas dos hospitais e nos deixam a tarefa de tentar pô-los na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados. Que está a rebentar pelas costuras - o ministério diz que não - e não consegue dar resposta a todos os casos. Porque há velhos a mais. Ou melhor, há os que seria de esperar numa população a envelhecer e à qual a Medicina vai prolongando a vida. É isso mesmo. Os culpados são os mesmos. Os que abandonam os seus filhos nas escolas e os seus pais nos hospitais e querem que professores e médicos resolvam tudo. Mas as coisas não se resolvem assim, meus caros.
Eu estudei no Carolina Michaelis e já no meu tempo - até parece que sou velha - havia turmas problemáticas e rixas nos recreios. E violência contra professores. Mas eram casos mais pontuais. De qualquer forma, eu passei por lá e estou aqui. Mas confesso que me assusta a ideia de no futuro ter filhos a frequentar as nossas escolas. Por várias ordens de razões. Contudo, mantenho a esperança de até lá alguém conseguir resolver a equação. Mesmo num país tradicionalmente mau a Matemática.
domingo, março 16, 2008
Do ficar
Às vezes é mau ficar. Sobretudo quando se deseja ir. Quando se merece ir.
Mas o destino presenteou-me em troca.
Às vezes é bom que o plano não corra como o esperado.
E ainda tive a oportunidade de me ficar a rir. Que se lixem.
I'm glad they didn't allow me to go.
quarta-feira, março 12, 2008
domingo, março 09, 2008
6 insignificâncias sobre a minha pessoa
Francisco Carvalho, meu caro, desculpa-me a demora mas aqui fica a resposta ao teu desafio (dias antes o Sniper tinha-me colocado o desafio anterior, e eu que ando com tão pouca disponibilidade). Mas agradeço e respondo, é sempre um prazer!
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1. Gosto de cantar no banho.
2. O meu prato favorito - pasmem! - é panados de peru com arroz de ervilhas e salada. Foi algo que ficou da infância e está instituído de tal forma que é o menu anual do Domingo de Ramos em casa da madrinha. Mea culpa!
3. Gosto de me levantar tarde e deitar tarde também; sou noctívaga e gosto bastante de trabalhar nas horas nocturnas, no sossego da casa. Hábitos que se harmonizam pouco com a minha profissão e que volta e meia me causam alguns dissabores...
4. Também adoro praias desertas. Eu que sempre gostei mais do campo, nos últimos anos tenho dado por mim a gostar dessa imensidão de céu, mar e areia. De preferência com poucas pessoas.
4. Também adoro praias desertas. Eu que sempre gostei mais do campo, nos últimos anos tenho dado por mim a gostar dessa imensidão de céu, mar e areia. De preferência com poucas pessoas.
5. Também nunca esqueço uma cara, mas sou péssima com nomes.
6. Sou aracnofóbica.
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A corrente é passada ao Naked Sniper, ao berra-boi, ao Francisco Curate, Fernando R. Santos, LR e Isabela.
E lá vou avisar-vos.
quinta-feira, março 06, 2008
12 palavras
Fui apanhada na cadeia das 12 palavras.
Assim, aqui vão as minhas favoritas (claro que em outra ocasião poderia não escolher precisamente estas 12, mas avante com o desafio):
- palavra: porque é das coisas que mais me diz na vida e porque ela mesma diz também todas as coisas;
- bliss: em inglês, pois claro!, da qual adoro a sonoridade e o sentimento;
- Porto: porque é o nome da minha cidade e porque nos últimos anos, agora exacerbado pela saudade e pela distância, é de lá que me sinto. Onde quer que passe o resto da minha vida, o salto terá sido sempre do Porto para o mundo.
- Trás-os-Montes: graficamente bela, esta palavra composta encerra a minha segunda morada afectiva e quase toda a minha família;
- amor: de todos os tipos e feitios, para mim o sentimento mais nobre. Fosse esta uma lista de sentimentos, e este vinha à cabeça;
- medicina: mais do que uma profissão, é algo que professo todos os dias; e de que gosto intensamente.
- sonho: porque sonho muito, acordada e a dormir, e creio que é mesmo isto que faz o mundo avançar,
- exquisite: porque me recordo perfeitamente do momento em que me ensinaram o significado desta palavra, tinha eu quatorze anos, no interior de uma igreja inglesa;
- cisco: porque é uma palavra que a minha avó e a minha mãe usam muito, não tenho a certeza se é um regionalismo, mas acho-lhe graça e também a uso frequentemente;
- mãe: porque há só uma, amo a minha e acho a maternidade fantástica;
- café: sou viciada nele, bebo vários por dia, e porque ir beber um é sempre um excelente pretexto para imensas coisas, nomeadamente estar com os amigos;
- amigo: é das coisas mais valiosas que se pode ter.
Agora vem a parte difícil de passar a brincadeira a 12 pessoas... E como não há 12 pessoas com quem eu tenha proximidade suficiente para passar a responsabilidade, imagino que algo de mau me irá acontecer! Bem, terei que passar só a meia dúzia e aguardar os desígnios da sorte.
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- jose
domingo, março 02, 2008
quinta-feira, fevereiro 28, 2008
Expressões caricatas
- Sabe, Dra., sofro muito dos ossos porque aos 45 anos tiraram-me as miudezas.
Doente do sexo feminino, 75 anos
terça-feira, fevereiro 26, 2008
Começar o dia
A minha pele no interior do teu abraço, a maresia a encher-me os pulmões, a vista do mar pela manhã.
domingo, fevereiro 24, 2008
Numa rua com nome de jornal
Conhecemo-nos há metade das nossas vidas. Tudo começou naquele liceu frente ao Estádio do Bessa, naquela rua com nome de jornal. Tudo, ou quase. Começámos nós, de certa forma.
Conhecemo-nos do avesso, atravessámos tudo, as aulas, a adolescência, a noite, os amores grandes e pequenos, os eventos culturais da cidade, as bebedeiras, as horas penduradas no telefone fixo, os reveses, as férias, as casas e as famílias uns dos outros, a entrada na Universidade, a saída do Porto e do país. Atravessámos tudo e espero que o continuemos a fazer.
Eu sei que vocês sabem, mas a vida é matreira, e há coisas que nunca devem ficar por escrever.
Amo-vos de coração.
A partir dos 50%, meus amigos, é sempre a subir.
terça-feira, fevereiro 19, 2008
quinta-feira, fevereiro 14, 2008
Menu da paixão
A paixão foi servida entre risadas e peripécias.
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14 de Fevereiro de 2008,
Quinta das Lágrimas
terça-feira, fevereiro 12, 2008
domingo, fevereiro 10, 2008
Again
A sala despida, o branco das paredes a ferir a vista. Os móveis grandes amontoados num canto. Os armários calafetados.
Assim estou, restrita a um quarto atulhado, uma casa-de-banho e uma cozinha.
Sei bem que não é nenhum drama, mas sintonizo com a sala na sensação de vazio.
Amanhã, no regresso, tudo irá estar ainda mais desalinhado e coberto por um fino pó branco.
Detesto obras em casa comigo dentro.
sexta-feira, fevereiro 08, 2008
Sempre rolando
Ultimamente, sinto não ter tempo para respirar. Tudo parece desenrolar-se independentemente da minha volição. Sinto que não controlo nada na minha vida. Não sou dona do meu tempo, dos meus humores, já nem mesmo do meu coração.
Ou isto vai correr muito bem ou muito mal.
quarta-feira, fevereiro 06, 2008
Florbela
Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar
E as pedras do caminho florescer!
domingo, fevereiro 03, 2008
Cenário de guerra
A nossa bancada de trabalho é, cada vez mais, uma trincheira.
Amanhã tenho outra batalha pela frente.
Momentos de glória
- Você é uma craque, você tem vocação para a Medicina.
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fiquei estupefacta,
nem imaginam quem me disse isto
Analogias
Numa avaliação ainda superficial, assemelha-se a um AVC. De início súbito, incapacitante, que amedronta e deixa sequelas (das boas).
E de prognóstico ainda reservado.
terça-feira, janeiro 22, 2008
Aviso à navegação (em águas cor-de-rosa)
Por motivos profissionais, o blog estará em banho-maria até inícios de Fevereiro.
domingo, janeiro 20, 2008
Gatos
Quem me conhece sabe que prefiro cães. Mas confesso ter, recentemente, desenvolvido um gosto especial por gatos. Dos que arranham.
quarta-feira, janeiro 16, 2008
Running out of time
Escudei-me nas lentes. E na injecção conjuntival. Há alergias oportunas.
A água insistentemente a ressurgir-me nos olhos, enquanto fixava os dele. A busca das palavras que, não fugindo à verdade, lhe expliquem o desenrolar das coisas e não lhe roubem as noites de sono. Preciosas. Nem a tranquilidade. Difícil. Dias passados numa cama contados à cadência de horas passadas numa cama, em boa verdade, minutos que não passam, que escorrem mais lentos que as gotas de soro que lhe entram nas veias ao ritmo de uma por segundo. Os olhos da família fincados em mim. O meu sorriso, aberto, a mão sobre a dele, o ter que dar a explicação deixada em branco pelo cirurgião. Não me apoquentou, apesar de tudo. Ele entende-me bem - aliás, ele entende tudo muito bem, é novo, tem a nossa lucidez e outra ainda, a de quem carrega a doença no corpo - a ele é que os outros não entendem, a maldita da doença até a fala lhe levou. É preciso resignação e o estabelecimento de um código. Isso já temos. E temos o tempo. Esse malfadado tempo que surge a cada passo nas perguntas. Giram todas à volta dele. Do tempo, claro. E vou respondendo às várias perguntas, mas a derradeira questão, essa, fica por responder. Vai-se respondendo à pergunta do tempo com mais tempo - Vamos aguardar um pouco, Um dia de cada vez -. E assim vamos passando o tempo. Que ambos sabemos que se lhe esgota, sobretudo quando lhe peço paciência. Essa também se lhe começa a esgotar. A qualquer um de nós no lugar dele. E à família, que atravessa agora a fase de negação. É muito duro dizer a uma família que o desfecho vai ser o pior possível, mesmo quando isso significa o fim do sofrimento. E eu vou aprendendo, com o tempo, a lidar com isso. Hoje, parece-me que nunca serei capaz de o dizer sem lágrimas a nascerem-me nos olhos. Mas vamos dar tempo ao tempo. Até nisso o malfadado nos rouba.
segunda-feira, janeiro 14, 2008
domingo, janeiro 13, 2008
terça-feira, janeiro 08, 2008
Frase da noite
Todas as decisões finais são políticas.
Correia de Campos, Prós e Contras
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P.S.: Também não perdeste nada, Besugo.
Para onde vai a Saúde?
Estamos super-hiper-mega-ri-fixes equipados de ambulâncias, helicópteros, desfibriladores, trombolíticos e pessoal especializadíssimo no pré-hospitalar (não estamos, mas assumamos que sim). Agora ninguém se preocupa é o que acontece com os doentes depois de cruzarem a porta do hospital. A nível de meios, pessoas e formação. A história de Aveiro dá aos leigos uma ideia. Eu cá tenho as minhas. Mas o Sr. Ministro não está preocupado. Eu se fosse ele e tivesse que recorrer a uma consulta aberta num Centro de Saúde ou a uma Urgência hospitalar também não. E claro, não viver em Anadia, Cantanhede e São Pedro do Sul também dá uma ajuda.
segunda-feira, janeiro 07, 2008
Frase do dia
(no banco)
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- Sabes, podemos pecar muito!
- Hã?... [a minha expressão de incompreensão e curiosidade]
- Sim, se me mandarem para o Inferno já sei como é; de certeza que não pode ser pior que isto.
sábado, janeiro 05, 2008
Addiction
Estou viciada nesta música. Não tem nenhuma particularidade especial. A letra não é fora do normal. Mas entra fácil no ouvido, a guitarra liga muito bem com o tempo do lado de fora da janela e gosto quando ele diz Hey there Delilah.
sexta-feira, janeiro 04, 2008
Lame excuses
O Dr. Correia de Campos escuda-se atrás do facto do Bastonário ser interino e não comentar as críticas dele. Todos [sim, nós, os que estamos no terreno] estamos fartinhos de saber que as Urgências dos hospitais estão a rebentar pelas costuras.
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Saúde
Update
Obrigada a todos pelas palavras e o apoio. Vou sobrevivendo. Entre o temporal, a casa-de-banho escavacada, os bancos depois do fecho de Anadia e a prova que se avizinha.
terça-feira, janeiro 01, 2008
Passagem
Foi a entrada num novo ano mais sem-vontade que já passei. Não fiz projectos, não me meti em balanços, não sonhei coisas novas. Não celebrei nada.
Pode ser que o ter passado assim à socapa faça com que 2008 não me venha bater à porta com chatices.
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