Assim, tal e qual. Era assim que terminava a mensagem de telemóvel. Não pude deixar de esboçar um sorriso. Ainda bem. Ainda bem que não há nada de novo e ainda bem que o nevo era benigno.
Para o senhor E.A., na casa dos 60, essa seria a melhor coisa que lhe poderia acontecer. Isso, de não haver nada de novo. Mas para ele não foi assim. Entrou com uma erisipela nos membros inferiores e saiu com uma doença nova, que infelizmente não terá a boa evolução da erisipela e não passará certamente com antibiótico. Ao senhor E.A., essas criaturas que o examinam todos os dias na enfermaria, diagnosticaram-lhe um Linfoma de Células do Manto. Mas o senhor E.A. é um homem simples, que nos questiona repetidamente antes de cada exame marcado se terá de pagar alguma coisa para o fazer e que todos os dias nos lembra de pedirmos transporte de ambulância quando tiver alta, e o senhor E.A. todos os dias nos recebe com um sorriso e está contente com o seu novo pacemaker, a "pilha" que faz o coração bater certinho e melhor. Sim, tratadas que estão a erisipela e a FA com bradicardia e o bem que se sente agora o senhor E.A., poder-se-ia pensar que tudo estivesse bem. Mas não, há algo de novo: o maldito LNH, a maldita translocação t(11;14) e os números que não enganam: cerca de 25% de sobrevida aos 5 anos. E agora, agora que o senhor E.A. estava pronto para voltar de vez à sua terra, vai ter de voltar umas poucas de vezes para fazer um tratamento duro, intensivo e que lhe vai oferecer muito pouco. É isso mesmo, muito pouco, não vai servir para extirpar essa coisa "nova", essa coisa "ruim" que ele ainda não sente, mas que já começa a dar sinais de si. É a dura realidade do senhor E.A., uma realidade que ele não entende completamente, como homem simples que é, mas que não engana e está aí: mau prognóstico. Pela neoplasia que é, pela idade do doente e pelo estadio avançado em que está.
E é assim: a Medicina irá tentar, mais uma vez, empurrar a linha, atrasar o desfecho, é isso que sabemos fazer hoje melhor que ontem, e esperar para ver o que a Natureza nos reserva. De qualquer das formas, uma coisa é certa: para o senhor E.A. (e para os seus cuidadores) era melhor que, de resto, não houvesse nada de novo.
2 comentários:
Não entendi muito bem o seu post, mas se te conforta leia nesse blog ( http://linfomadomanto.blogspot.com/ )o testemunho de quem superou essa horrível doença: linfoma de células do manto.
Boa sorte, fique em paz.
Abraços, Fernanda
O post era sobre um doente que eu tive, fe. E sobre o facto de não se ter confirmado uma patologia mais grave num amigo meu.
De qualquer forma, obrigada, e volte sempre.
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