sábado, dezembro 01, 2007

História

O post anterior é irrelevante. Ou melhor, contém uma palavra fulcral: reencontro. Que não aflora sequer o que teve lugar. Não foi um qualquer reencontro. Foi um reencontro histórico. Na minha vida pessoal, entenda-se, o resto do mundo prossegue a sua história. Mas na minha houve uma ruptura. De certa forma, haverá um antes e um depois de ontem. Absolutamente inesperado. Os vírus trouxeram-te a Coimbra. E até isso foi um pouco fortuito. De repente olhei, e lá estavas tu. Desde esse momento, o meu corpo foi tomado por um nervoso miudinho. Hesitei por segundos. Mas ainda há tempos tinha tentado saber notícias tuas. Reúno a coragem e abordo-te. A tua surpresa. Saímos da sala, numa hora (mais? menos? não contei e perdi literalmente a noção do tempo) pusemos parte da conversa em dia. Quatro anos de silêncio. Levei-te ao meu Serviço, memorizaste o meu número no teu novo telemóvel (eu nunca tinha perdido o teu, embora duvidasse que o número ainda se mantivesse). Confessei ter-te avistado no Molhe, confessaste ter-me visto de relance no São João. Quatro anos de silêncio. Que tu escolheste, é certo. Sempre me entristeceu isso, não havia justificação. Despudoradamente, pergunto-te se não queres conhecer a minha casa nova. Infelizmente não podes, vais regressar de boleia dali a pouco, urgência no dia seguinte. Quatro anos depois. Depois de teres cortado relações comigo (que disparate!). Não sou rancorosa, como sabes, e perdoei-te isso. E suportava até que me ignorasses nos corredores do hospital. E o curioso foi a sensação de familiaridade constante. Como se os quatro últimos anos da nossa vida não tivessem existido. E o momento em que afirmas que a tua última vinda a Coimbra tinha sido "quando vim contigo". Aliás Coimbra para mim, na idade adulta, é isso: esse dia que passámos aqui, há uns anos. Combinou-se encontro para um copo no Porto. Que suspeito não se vir a concretizar. Mas dou-me por feliz desta quebra de silêncio. Basta-me isso. Foste o meu maior amor até hoje e aquele silêncio era totalmente descabido. Coimbra voltou a ser ontem, para mim, a Cidade dos Amores. Idos, é certo, mas dos amores. E se não for por mais nada, já valeu a pena ter vindo viver para cá. Para escrever esta página de história.

4 comentários:

Sergio Barroso disse...

Este país é mesmo muito pequeno. Mais tarde ou mais cedo acabamos sempre por nos esbarrarmos uns nos outros.

francisco carvalho disse...

Bela carta aberta.

Pinky disse...

Francis, lá que ele é pequeno, concordo... Agora, sou mais reticente nas coincidências...

Francisco: [sorriso]... Uma carta aberta para mim e para vocês. Sabes, depois dos infelizes acontecimentos de que fui vítima em Outubro aí na Invicta, apercebi-me de que o Pink é, também e por vezes, um verdadeiro diário que acaba por conter "coisas valiosas". Quase todas as fotografias que aqui figuram passaram a existir só mesmo neste suporte; perdi irremediavelmente a maior parte dos meus registos fotográficos desde 2003/2004...
Não só mas também por isso, aqui fica o relato desse acontecimento indelével.
De qualquer das formas, a pessoa em questão não sabe nem sonha da existência do Pink.

francisco carvalho disse...

Eles nem sabem nem sonham.
;)

o meu comentário, para além da beleza do teu gesto, também se deve, certamente, às influências do livro que "em carne viva" ando a ler...

beijos