sábado, março 20, 2010

Probabilística

Duas lágrimas. Uma de cada olho. Contornaram-lhe a face, preenchida pelos óculos e pela máscara de alto débito. Ainda lhe sequei uma com a mão. Verti uma, eu também.

Sei que depois de lhe ter desejado uma noite tranquila, melhor que a da véspera, fiz votos de bom fim-de-semana... votos sinceros, entenda-se, daquela sinceridade desesperançada de quem sabe que o fim-de-semana não será bom. Ou talvez sim, se a partida for suave.

Despeço-me até 2ª feira (como poderia não o fazer?) e ela devolve-me os votos de um bom fim-de-semana e acrescenta a certeza da evidência que lê no corpo e na alma: agradece tudo o que fizemos por ela, todos os cuidados, todos os esforços. Não que eu tivesse dúvidas da perspicácia da Sra. A., mas ficou tudo claro ali. Tudo claro, como a radiografia torácica dela.

Verti outra lágrima, impossível não o fazer ao vê-la naquela aflição, já com os dissílabos sumidos, mas a garantir-me que estava bem melhor que de manhã (umas saturações miseráveis, mas ao menos a frequência respiratória estava mais baixa)... Talvez para me tranquilizar, sempre bondosa a Sra. A.. A dispneia é das piores sensações que pode haver. Digo eu, que sou asmática, sei como é.

Não é impossível, é certo, mas altamente improvável que nos vejamos 2ª feira.

Vou de fim-de-semana com a Sra. A. no pensamento e no coração. Que se cumpra a vontade dela Que Deus Nosso Senhor resolva como (quando) achar melhor.

1 comentário:

francisco carvalho disse...

Fazer como no livro dos rostos — gostei.
Texto tocante.

beijinhos, menina pinky.
:)