terça-feira, julho 27, 2004

Boas e más companhias

Outro dia, a propósito de uma viagem que farei brevemente, sozinha, perguntavam-me se não me afligia a falta de companhia.
Não, a solidão não me aflige. A solidão é uma boa companhia. Nunca chega demasiado cedo (as outras companhias é que, por vezes, partem antes do tempo). Nunca é inoportuna - ela aparece quando tem que aparecer. Ela é verdadeira e altruísta (vem por nós, para nós, sem qualquer outra motivação). A solidão entrega-se a nós por inteiro, fica connosco noite e dia, se necessário, até ao ponto de se tornar a nossa solidão.
Uma companhia assim pode, adicionando-lhe longas porções de tempo, converter-se em algo insuportável. Podemos cansar-nos dela como de tantas outras coisas na vida que se tornaram rotineiras. Mas aí a culpa continua a residir em nós. A solidão vai-se quando tem que ir, porque não é preciso mandá-la embora; se entretanto arranjarmos outra companhia ela parte sem fazer escândalos, sem se sentir preterida e é certo que voltará para nós na devida altura.
Não. A solidão não me aflige. A mim o que me aflige são as más companhias.

Sem comentários: