Ontem estive no Casino da Póvoa. Convite para dois, fato escuro, jantar integrado no Festival Gastronómico da Caça: pombo, faisão, coelho bravo, perdiz, veado, javali...
Aceitei ir com o meu pai a este jantar em que fico sentada ao lado de casais na faixa dos 50-60, que praticamente não me dirigem a palavra, a ouvir falar de negócios a noite inteira, só pela Jacinta. Vais gostar, tem boa voz, disse a minha mãe, que já a tinha ido ver com o meu pai ao Rivoli. Fui. Aperaltei-me toda (dentro do informal, não fui de vestido comprido nem nada do género) e preparei-me para morrer de tédio até ao início do espectáculo.
Foi melhor que o previsto: casais na faixa dos 40-50, que me interpelaram por duas vezes e conversas sobre crianças que, na escola, destruiram os estojos dos colegas com uma tesoura e tiveram laranja no comportamento e adolescentes com distúrbios alimentares. A melhorar em relação à última vez que cá estive, pensei.
Foi aí que ela entrou: Jacinta acompanhada de músicos nacionais. A vestimenta era simples (até demais, acho), a atitude humilde, mas gostei da proximidade com o público.
Deixei-me contagiar pelo jazz. Vibrei mesmo. Não estivesse ali e até me levantava para dançar. Os músicos estavam divertidíssimos e eu gosto de espectáculos assim, apetece-me juntar-me a eles.
A actuação não chegou a uma hora, soube a pouco. Mas deixou-me num humor excelente. À medida que o licor era absorvido pelo meu sangue e a música contaminava os meus sentidos, fui sendo invadida pela sensação de que tudo iria correr bem daqui para a frente. Até aquelas baladonas de blues, de uma tristeza alegre, me devolveram uma serenidade que ultimamente não tenho tido. A música sempre teve um efeito muito poderoso no meu estado de espírito.
It was worth it. Agradam-me noites destas. Em que se regressa a casa com a alma a cantarolar uma prece de agradecimento só pelo facto de estarmos vivos...
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