quarta-feira, novembro 21, 2007

Luxos

(...)
Ele: E não há nada que eu possa fazer enquanto espero...? Tenho mesmo de estar aqui à espera das análises 3 horas?
Eu: Bem,... não é obrigado a nada, se quiser assinar um termo de responsabilidade e ir embora...
Ele: Não há assim uma Internet, um Messenger que eu possa usar, têm aí os computadores (a apontar para aquele onde eu estava a ver a radiografia de uma doente)...
Eu: Pois, mas estes, como compreenderá são para nós trabalharmos...
Ele: Enfim, é uma tristeza, não há condições... A pessoa quando vem ao hospital, mesmo que não esteja doente, sente-se mesmo doente...
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Claro que a esta altura voltei a pousar os olhos na radiografia e respirei fundo, para não me indispor com o senhor que nem sequer estava a ser visto por mim, e que estava lá sentadinho, todo pimpão, perna traçada, a folhear o jornal, sorridente, na casa dos 40... Eu, enfim, sou uma moça de desejos simples, mesmo à 1:30h da manhã, estando eu de pé ao computador, ainda não tendo tido tempo de ir buscar a minha ceia, numa urgência confusa com máquinas de troponinas avariadas, impressoras a pifar, computadores lentos, macas em 3ª fila... Eu contentava-me em poder correr uma cortina para dar privacidade aos doentes no exame físico, em ter mais colegas, enfermeiros e auxiliares (ou uma melhor organização dos mesmos) e vá, pronto, agora assim um pedido mesmo à doida que era o de assistir pessoas verdadeiramente doentes. Irrita-me profundamente esta malta que vai entupir as urgências, consumir-nos tempo precioso para quem está mesmo mal e que ainda julga que um hospital é um centro recreativo, um hotel ou coisa do género! Estas pessoas deviam ser penalizadas por utilizarem indevidamente as urgências (de forma pecuniária e/ou outra). A Saúde não é um luxo, é um direito. E, como dizia um professor que tive, também um dever. As pessoas têm o dever de preservar a sua saúde e, acrescento eu, de respeitar quem trabalha na área e ainda os outros que precisam de recorrer aos cuidados de saúde. Tenho dito.

4 comentários:

hfm disse...

Direitos e deveres? será que são palavras conhecidas na actual sociedade?

Pinky disse...

Tantas vezes esquecidas...

Isabela Figueiredo disse...

As pessoas têm o dever de preservar a sua saúde?
Não achas que estás a ficar um bocado radical?
Eu também sei o que é esperar 3, 4, 5, 6, muitas horas no hospital, e seriamente doente. Da última vez esperei 12, numa maca. Detesto hospitais. Se vou é porque estou MESMO muito doente. Agora quanto ao dever de preservar a minha saúde, vamos lá ver: escovo os dentes, tomo banho, alimento-me o melhor que posso, mas isso não é suficiente para me garantir uma saúde de ferro. Estaríamos bem arranjados se os técnicos de saúde só ajudassem os que cuidam muito bem do seu corpo.Estás pior que o ministro da Saúde. Fosga-se. Deves ter tido um péssimo banco, realmente, mulher.

Pinky disse...

Claro que não ajudamos só esses, Isabela!... Se assim fosse não teríamos muito que fazer... Mas podes crer que se toda a gente cumprisse as tuas medidas, já ajudava ;)...
Mas o que eu queria frisar era que só deveria recorrer às Urgências quem estivesse mesmo doente e não quem vai "tentar a sorte" para ver se lhe marcam uma consulta externa mais rapidamente, se acelera a chamada para as cirurgias ou se vai fazer as "análises gerais" que não tem paciência de ir pedir ao Médico Assistente no Centro de Saúde!!
Quanto à responsabilização da saúde do próprio, fica sabendo que, por exemplo, nos países nórdicos tens penalização nos impostos se não seguires as consultas recomendadas do Plano de saúde Dentária Nacional ou se faltares aos rastreios do Cancro do Colo do Útero!