Aconteceu no Carolina Michaelis, mas podia ter acontecido em qualquer outra escola do grande Porto. Pode-se tentar colocar a culpa no tipo de alunos que frequentam o liceu (sim, vou tratar o Carolina por liceu): podemos alegar que a envolvência habitacional do liceu é complicada. Que há certos bairros. Podemos advogar que a professora já não é jovem, que não tem a constituição física para fazer frente a uma aluna espigada e mal-educada do 9º ano. De facto, não acredito que a população de alunos do Carolina Michaelis tenha mudado assim tanto na última década e, além disso, os professores são professores; não têm que ser cinturão negro de judo ou praticar boxe. Mais, isso são apenas desculpas e, creio, não vão ao âmago da questão.
O problema, contrariamente ao que ouvi um colega Psiquiatra comentar na TV (não podiam ter escolhido alguém que mais longe estivesse da realidade dos adolescentes e das escolas), na minha opinião, radica precisamente na família. Ou na alteração da dinâmica que a mesma vem sofrendo. É um problema social e só quem não percebe nada disso é que pode afirmar que os pais não têm nada a ver com o que os filhos fazem nas aulas. As nossas crianças, com pais que trabalham todo o dia fora e quantas vezes longe de casa, que mal os vêem à noite e com os quais não conversam, atiradas para frente das televisões e dos computadores, agarradas aos telemóveis à mesa nos restaurantes, andam absolutamente desacompanhadas e pouco sabem - entre tantas outras coisas - do que seja uma figura de autoridade e de como a respeitar. Que isto vai de mal a pior, qualquer pessoa sensata já conseguiu perceber. A solução para o problema? Também não a tenho, não é de todo a minha área. Mas o problema, esse, é fácil de diagnosticar.
São as famílias. A falta delas, o facto de pai e mãe, ou figuras equivalentes, trabalharem todo o dia fora de casa e não terem a menor ideia do que se passa com os filhos. São estas mesmas famílias que, pelos mesmos motivos, abandonam os velhos doentes nas camas dos hospitais e nos deixam a tarefa de tentar pô-los na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados. Que está a rebentar pelas costuras - o ministério diz que não - e não consegue dar resposta a todos os casos. Porque há velhos a mais. Ou melhor, há os que seria de esperar numa população a envelhecer e à qual a Medicina vai prolongando a vida. É isso mesmo. Os culpados são os mesmos. Os que abandonam os seus filhos nas escolas e os seus pais nos hospitais e querem que professores e médicos resolvam tudo. Mas as coisas não se resolvem assim, meus caros.
Eu estudei no Carolina Michaelis e já no meu tempo - até parece que sou velha - havia turmas problemáticas e rixas nos recreios. E violência contra professores. Mas eram casos mais pontuais. De qualquer forma, eu passei por lá e estou aqui. Mas confesso que me assusta a ideia de no futuro ter filhos a frequentar as nossas escolas. Por várias ordens de razões. Contudo, mantenho a esperança de até lá alguém conseguir resolver a equação. Mesmo num país tradicionalmente mau a Matemática.
2 comentários:
e tu nem és cavalona como a tal miuda
mas tens muita razão no que dizes
Pois não, tenho estatura média e sou muito elegantezinha!!
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