Esta tarde, quando ia de carro na marginal, um pouco antes de passar debaixo da Ponte da Arrábida, na direcção Ribeira-Foz, vi uma mulher sentada no muro a olhar o rio. Pouco passava das seis da tarde e o céu já vestia de pôr-do-sol. Ao longo desse muro vêem-se sempre vários pescadores, uns solitários, outros em grupo; há sempre gente a correr, de bicicleta, casais amorosos a passear, pares de amigas, turistas. Ela era mulher e estava sozinha, sem parecer esperar ninguém; de pernas cruzadas e cabelos levemente ondulados pelo vento. Hoje o tempo esteve bom, eu levava a janela meia aberta e desejei também fazer parte do cenário. Mas, estranhamente, - pensei de início - a rapariga não estava de costas para os carros a olhar a foz do rio e o poente. Estava de cabeça erguida, voltada para nascente. Não para onde o rio vai, mas de onde ele vem. Para o princípio. Depois entendi. Tinha os olhos bem abertos e a face serena. Estava a aprender a lição. A ouvir a verdade contada pelo cristal líquido. Fitando a direcção contrária. Quando todos olham o desaguar das águas. Fui a pensar nisto o resto do caminho. Achei uma atitude sábia. Também a mim me atraem agora os começos. De tudo. Os fins foram lá atrás.
sexta-feira, setembro 15, 2006
quarta-feira, setembro 06, 2006
sexta-feira, setembro 01, 2006
Cartas
Cartas. De papel. E com cheiro. A rosas ou a outro perfume suave. Sobretudo as de amor. E porque não as de amizade?, havia conjuntos de cartas e envelopes lindos, com desenhos, odores, e relevos e recortes, escrevi muitas a amigas minhas e lembro-me também de as receber. Coleccionavam-se. Mas, sobretudo, as de amor. Devem ter sido descontinuadas. Hoje em dia isso acontece a muitas outras coisas. Outro dia rompi a pulseira de couro do meu relógio e fui à loja comprar outra. Não havia. Tinha sido descontinuada. Tiveram que enviar o mostrador para a marca. Lá me resolveram o problema. Esperei 3 meses. Andei sem relógio. Perdi a noção do tempo. Mas ontem vi um filme onde havia uma casa sobre um lago. Ou lagoa. E cartas. Muitas. E já me decidi. Acho que vou começar a escrever cartas. Em papel. E a deixá-las numa caixa de correio. A ver o que acontece. Perdi a noção do tempo. Pode ser que aconteça algo. Quem sabe o amor. Não tenho é destinatário. Penso. Primeiro tenho que alugar uma casa no lago. Vivo perto do mar. Bolas! Bolas, não. Cartas.
sexta-feira, agosto 25, 2006
Ironias do Blogger
Pior: não é que quando escrevo o mail no post, ele cria um link, e quando o quero pôr no template, não consigo?!
Acredito que isto tem certamente uma explicação muito simples. Mas que eu desconheço. Desconfio, no entanto, que tem a ver com linguagens HTML e coisas afins. Um mimo. E eu que pensei que a versão Beta era para descomplicar...
Andanças do Blogger
Quem percebe pouco destas coisas é assim. Estava ainda a saborear a minha vitória de ter conseguido actualizar o blog, passando-o à versão Beta, e já desanimo ao ver que não consigo pôr assim ali no cantinho superior direito o meu mail, sim, daqueles com link, em que se carrega e o editor de correio electrónico começa a funcionar...
P.S.: Aceita-se ajuda de blogger caridoso. E para quem estiver interessado, a morada mantém-se: pink4mail@yahoo.com.br
terça-feira, agosto 22, 2006
Breakthroughs em Imunidade humoral
Dados preliminares permitem-me constatar que também se desenvolvem defesas contra as relações amorosas idas. E específicas para o antigénio. E também se produzem IgG, de protecção indefinida (ainda meramente uma hipótese).
Pelo sim, pelo não, vou continuar a fortalecer o meu sistema imune com períodos de exposição moderada ao sol e banhos de mar, nas iodadas praias nortenhas.
segunda-feira, agosto 21, 2006
Chavões de Enfermaria
- Quem foi o médico que prometeu uns exames ao doente da cama 13?
- Ao senhor M.? Fui eu, Sr. Enfermeiro. Mas quem o ouvir dizer isso... O homem vai mesmo fazer um Rx tórax, já está pedido e até já liguei para os técnicos lá em baixo. Os mensageiros é que nunca mais aparecem para levar o doente.
- Ai, Doutora, Doutora... É que o homem nunca mais se cala a perguntar quando é que vai fazer o exame. É que sabe, os doentes são como as mulheres: não se lhes pode prometer nada.
sábado, agosto 12, 2006
domingo, agosto 06, 2006
Agosto
O calor. A esplanada ao fim da tarde. Ou o pequeno-almoço na esplanada deserta. Chegar a horas ao trabalho. Usar pouca roupa por baixo da bata. A cidade que foi de férias. Desculpa para a moleza pós-laboral.
domingo, julho 23, 2006
terça-feira, julho 11, 2006
"D resto nada de novo hehe"
Assim, tal e qual. Era assim que terminava a mensagem de telemóvel. Não pude deixar de esboçar um sorriso. Ainda bem. Ainda bem que não há nada de novo e ainda bem que o nevo era benigno.
Para o senhor E.A., na casa dos 60, essa seria a melhor coisa que lhe poderia acontecer. Isso, de não haver nada de novo. Mas para ele não foi assim. Entrou com uma erisipela nos membros inferiores e saiu com uma doença nova, que infelizmente não terá a boa evolução da erisipela e não passará certamente com antibiótico. Ao senhor E.A., essas criaturas que o examinam todos os dias na enfermaria, diagnosticaram-lhe um Linfoma de Células do Manto. Mas o senhor E.A. é um homem simples, que nos questiona repetidamente antes de cada exame marcado se terá de pagar alguma coisa para o fazer e que todos os dias nos lembra de pedirmos transporte de ambulância quando tiver alta, e o senhor E.A. todos os dias nos recebe com um sorriso e está contente com o seu novo pacemaker, a "pilha" que faz o coração bater certinho e melhor. Sim, tratadas que estão a erisipela e a FA com bradicardia e o bem que se sente agora o senhor E.A., poder-se-ia pensar que tudo estivesse bem. Mas não, há algo de novo: o maldito LNH, a maldita translocação t(11;14) e os números que não enganam: cerca de 25% de sobrevida aos 5 anos. E agora, agora que o senhor E.A. estava pronto para voltar de vez à sua terra, vai ter de voltar umas poucas de vezes para fazer um tratamento duro, intensivo e que lhe vai oferecer muito pouco. É isso mesmo, muito pouco, não vai servir para extirpar essa coisa "nova", essa coisa "ruim" que ele ainda não sente, mas que já começa a dar sinais de si. É a dura realidade do senhor E.A., uma realidade que ele não entende completamente, como homem simples que é, mas que não engana e está aí: mau prognóstico. Pela neoplasia que é, pela idade do doente e pelo estadio avançado em que está.
E é assim: a Medicina irá tentar, mais uma vez, empurrar a linha, atrasar o desfecho, é isso que sabemos fazer hoje melhor que ontem, e esperar para ver o que a Natureza nos reserva. De qualquer das formas, uma coisa é certa: para o senhor E.A. (e para os seus cuidadores) era melhor que, de resto, não houvesse nada de novo.
segunda-feira, julho 10, 2006
sexta-feira, junho 30, 2006
Progress notes
S: Bem-disposta. Animada. Sem queixas de novo (e a esquecer as antigas).
O: Vigil, consciente e colaborante. Orientada para tempo, espaço e pessoa.
Bom aspecto geral. "Ruiva". Sorridente, unhas pintadas de vermelho vivo.
Mucosas coradas e hidratadas. Anictérica e acianótica. Sem SDR.
Hemodinamicamente estável. Taquicárdica. Apirética.
AC: "lub dub, lub dub"...
AP: MV presente e simétrico, sem ruídos adventícios.
Abdómen: plano,mole e depressível, sem SIP, indolor à palpação superficial e profunda, sem organomegalias, RHA + e N.
Membros inferiores: depilados.
A: Melhoria sintomática. A taquicardia deve-se à antecipação do fim-de-semana. No que concerne à orientação espacial é de acrescentar que não foi ela a responsável pela elaboração do roteiro (embora, caso tivesse sido, não resultaria grande prejuízo).
P: Aproveitar bem o fim-de-semana. Tracto GI preparado para ingestão de paellas, tapas, cañas e afins. 2a-feira é previsível o surgimento de algum cansaço (após noite de SU), mas este cederá certamente a umas boas horas de sono.
O: Vigil, consciente e colaborante. Orientada para tempo, espaço e pessoa.
Bom aspecto geral. "Ruiva". Sorridente, unhas pintadas de vermelho vivo.
Mucosas coradas e hidratadas. Anictérica e acianótica. Sem SDR.
Hemodinamicamente estável. Taquicárdica. Apirética.
AC: "lub dub, lub dub"...
AP: MV presente e simétrico, sem ruídos adventícios.
Abdómen: plano,mole e depressível, sem SIP, indolor à palpação superficial e profunda, sem organomegalias, RHA + e N.
Membros inferiores: depilados.
A: Melhoria sintomática. A taquicardia deve-se à antecipação do fim-de-semana. No que concerne à orientação espacial é de acrescentar que não foi ela a responsável pela elaboração do roteiro (embora, caso tivesse sido, não resultaria grande prejuízo).
P: Aproveitar bem o fim-de-semana. Tracto GI preparado para ingestão de paellas, tapas, cañas e afins. 2a-feira é previsível o surgimento de algum cansaço (após noite de SU), mas este cederá certamente a umas boas horas de sono.
terça-feira, maio 23, 2006
As palavras que nunca te direi
Nunca te cheguei a revelar um hábito meu, um ritual que cumpria sempre que estava em casa, ao entardecer, desde que o Inverno tinha partido. Encostava-me ao parapeito da janela do quarto (sim, aquela janela rasgada) e, em silêncio ou com a música a tocar, ficava a ver o pôr-do-sol e a sorrir sozinha, de felicidade e gratidão, por te ter. Era um momento em que revivia peripécias nossas... tecia sonhos...
É por isso que, agora que tudo acabou, os pores-do-sol me são difíceis.
segunda-feira, março 20, 2006
Em estreia desde Janeiro de 2006 (e, esperemos, até aos 65, mais coisa menos coisa...)
A saúde do meu doente será a minha primeira preocupação.
terça-feira, dezembro 27, 2005
O costume, se faz favor!
Era só para deixar a mensagem do costume, na quadra do costume, com as palavras do costume (o sentimento é que é renovado):
a
Feliz Natal e um óptimo 2006
sábado, dezembro 10, 2005
Favourite places
Ultimamente, o meu sítio preferido é dentro do teu abraço, com vista para o interior do teu olhar.
quinta-feira, outubro 27, 2005
Das partidas e dos regressos
Sempre gostei mais das partidas. Das minhas, entenda-se. E dos regressos. Neste caso, do dos outros. Dos que fazem falta. E tu tens feito bastante.
E desta vez estou com sorte. Estás de regresso e eu de partida. Mas sem desencontros!
Mas para já vou ficar a degustar a palavra partida, qual quadrado de chocolate negro a derreter lentamente na minha boca... Par-ti-da...
segunda-feira, outubro 24, 2005
De regresso
Aos blocos de cimento. Ao trânsito. Aos STCP. E agora ao Metro. Ao aquecimento central. Ao hi-fi. À televisão. Ao computador. À Internet. Ao telefone fixo.
... ...
Ok, pronto, salva-se o aquecimento central!
Mas já tinha saudades do buliço da cidade...
quinta-feira, setembro 15, 2005
Nenhum Olhar
Tenho o peso do mundo sobre as costas. O sol põe-se no mar, ao fundo da Av. da Boavista, e cá dentro as sombras também crescem. Algo morre. Um pouco mais. Sou eu. Sou eu que morro um pouco mais. Espero, ao menos, que a primeira parte do vaticínio se tenha já cumprido. Caso contrário, duvido que resista muito mais. Resta-me esperar pelo futuro.
Entretanto, vou ficando com aquela que me parece hoje a única verdade, de José Luís Peixoto:
Já não posso voltar atrás, porque nunca se pode voltar atrás. Só o arrependimento daquilo que não escolhemos persiste, existe.
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